Lista de Aprovados e Notas - Processo Seletivo 2015

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Gabarito Processo Seletivo 2015

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Agradecimento e Fotos - Palestra A Arte Secreta de Michelangelo com Dr. Gilson Barreto

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A Liga de Anatomia Humana (LAH) em parceria com a Liga Acadêmica de Clínica (LACM) e a Liga Interdisciplinar de Cirurgia (LIC) agradece as mais de 250 inscrições e a todos os presentes na palestra. Agradecemos também o Dr. Gilson Barreto pela maravilhosa palestra e companhia nesta noite de quarta-feira!




A Liga de Anatomia Humana (LAH), em parceria com a Liga Interdisciplinar de Cirurgia (LIC) e a Liga Acadêmica de Clínica Médica (LACM) e com o apoio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), convida os alunos da FURG e demais pessoas da comunidade rio-grandina para a palestra "Arte e Anatomia - A Arte Secreta de Michelangelo" com Dr. Gilson Barreto, que ocorrerá no dia 18 de março, às 18h30min, na Área Acadêmica do Campus Saúde. As inscrições são gratuitas e apenas online pelo site: lahfurg.blogspot.com.br
O médico Gilson Barreto é grande conhecedor de anatomia humana e um amante das artes, especialmente daquelas do período renascentista. Graças a essa dupla característica, ele descobriu um código oculto nos afrescos do teto da Capela Sistina feitos por Michelangelo. Há peças anatômicas escondidas nas cenas bíblicas, e em cada uma delas o próprio artista apresentou 'pistas' sobre a localização das peças.

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DICA: Sites Para Estudar Anatomia

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Um Pouco da História da Anatomia: Histórico do uso de cadáveres humanos

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A “Anatomia” tem os seus primeiros relatos deste o início da civilização, a partir do instante em que o homem passa observar em outro homem e em outros animais, as várias regiões do corpo das quais eram constituídos (Tavares, 1999; Silvino, 2001). Ao contrário do que muitos pensam, a Anatomia não é uma ciência morta, muito menos de apenas cadáveres. Anatomia, além de não ser uma ciência morta, é essencial para o conhecimento, pois é através dela que os profissionais da área da saúde adquirem conhecimentos dissecando ou observando o corpo humano (Chevrel, 2003).

A ciência “Anatomia” começou nos primórdios da história humana. O homem pré-histórico já observava à sua volta a existência de seres diferentes de seu corpo, os animais. Com isso, passou a gravar nas paredes das cavernas e fazer esculturas das formas que via. Com isso passou a notar detalhes, que hoje nos permite identificar as espécies animais descritas (Silvino, 2001). Estas representações indicam não somente que a pintura pré-histórica nasceu há muito tempo, mas que se desenvolveu em ritmo rápido e atingiu admirável grau de satisfação (Knapp, 2004).

Segundo Valladas et al (2004), a arte do Homo sapiens era bastante elaborada, tanto em termos de realismo quanto de traços artísticos, é o que revela os animais desenhados nas grutas, os quais tem aparência bastante realista.
Da simples observação, passou-se a prática da dissecação, o que levou a anatomia a se firmar como princípio fundamental da prática na “área da saúde” (Erhart, 1976; Alberts, 1997). Segundo Moore (1990) “A anatomia é uma antiga ciência médica básica”.

Na verdade, torna-se impossível distinguir a história da Anatomia Humana e da Medicina visto que estas áreas cresceram e se desenvolveram em "parceria" durante séculos (Oliveira, 1981).

A partir do ano 150 a. C. a dissecação humana foi proibida por razões éticas e religiosas (Petrucelli, 1997). Parece que o estudo da anatomia humana, segundo Petrucelli (1997) e Wecker (2002), recomeçou mais por razões práticas que intelectuais, e o motivo mais importante para a dissecação humana, foi o desejo de saber a causa da morte por razões essencialmente médico-legais, de averiguar o que havia matado uma pessoa importante ou elucidar a natureza da peste ou outra enfermidade infecciosa.

A anatomia da Grécia teve sua origem no Egito (Gray, 1977; Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Melo, 1989; Moore, 1990; Singer, 1996). Durante o milênio que antecedeu à Cristo, o centro da civilização transferiu-se do Egito para o cenário temperado do mundo grego, onde nasceram os conceitos de medicina racional e de ética médica como parte integrante de uma busca do homem pela verdade objetiva (Melo, 1989; Noronha, 1998).

A história do uso do cadáver humano retrata que o meio mais antigo, de que se tem conhecimento, para conservação de cadáveres, é a mumificação ou embalsamento (Chagas, 2001). Segundo Melo (1989), este método era praticado pelos egípcios com finalidade religiosa e não para preparar cadáveres desconhecidos. Acreditava-se que os mortos continuariam vivos no túmulo, porém era uma graça concedida apenas aos nobres e reis, como pode ser observado pela cabeça mumificada do Faraó Ramses V. No Egito dos Faraós, a mais de 5.000 anos, desenvolveu-se esta técnica de embalsamento, permitindo os primeiros estudos anatômicos das doenças.
Os primeiros cientistas Anatomistas e Médicos foram os egípcios. Após vieram os Mesopotâmios (Melo, 1989). A importância do médico que cuidava dos animais era tão grande para os Mesopotâmios, que o exercício da atividade ganhou destaque até no "código de Hamurabi". Essa importância era devida aos cavalos, pois estes eram: o meio de transporte, máquina de guerra e moeda de escambo (Chagas, 2001).

Foram os gregos que denotaram um maior avanço no estudo da anatomia. A história grega conta que todo guerreiro era hábil em extrair uma ponta de flecha. Os médicos guerreiros conheciam ossos, juntas, músculos e tendões do corpo (Melo, 1989). O cadáver humano não era violado, por questões religiosas e leis oficiais estabelecidas (Chagas, 2001).

Foi Alcameon de Croton (500 a.C.) que forneceu os mais antigos registros de observações anatômicas reais, fazendo dissecação em animais (Gray, 1977; Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Melo, 1989; Petrucelli, 1997; Soares, 1999) e o seu tratado sobre a natureza tornou-se um texto médico fundamental (Melo, 1989).

Na Grécia, Hipócrates de Cós, criou a célebre "Teoria Humoral da Enfermidade", com base na aparência externa do indivíduo e correlacionando causas e efeitos, ainda que empiricamente (Melo, 1989). Considerado um dos fundadores da ciência anatômica (Gray, 1977; Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Moore, 1990), e a ele são atribuídos 72 textos e num destes afirmou que “A Natureza do corpo é o início da Ciência Médica” (Melo, 1989; Moore, 1990).

Os “Ensinamentos e Juramento” de Hipócrates deram partida aos códigos moral e ético da prática profissional, e o mundo grego conheceu uma nova imagem do médico, agora sendo um homem simples, humano, real (Melo 1989).

Nessa mesma Roma antiga, viveu Cornelius Celsus, que descreveu os 4 sinais cardeais da inflamação: vermelhidão, inchaço, calor e dor ["Signa inflammationis quatror sunt: Rubor et Tumor, cum Calor et Dolor"], redescobertos em 1443 pelo Papa Nicolas V (Melo, 1989). Escreveu a primeira história médica organizada, traçando sua evolução através da Medicina hipocrática e Alexandrina (Chagas, 2001).

A anatomia humana de superfície foi estudada em obras de arte da Grécia desde o século V a.C. De Anatomia (da coleção hipocrática, meados do século IV a.C.) é talvez o mais antigo tratado de anatomia e do Coração é a mais antiga obra anatômica completa (Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978).

Setenta e dois anos depois de Hipócrates, surge Aristóteles, o qual adotava o coração como centro das emoções (Cole, 1944; Gray, 1977; Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978). Aristóteles (384-322 a.C.), foi o fundador da anatomia comparativa, sendo o mais famoso dos discípulos de Platô, também não usou cadáveres humanos, concentrando seus estudos de dissecação nos vertebrados (Moore, 1990; Singer, 1996; Chagas, 2001).

Quase meio século depois de Aristóteles, surgiu o primeiro homem a ousar dissecar o cadáver humano, apesar de todos os perigos e preconceitos existentes na época (Chagas, 2001). Foi Herófilo da Calcedônia concretizando o desejo de muitos anatomistas ao dissecar o corpo humano, e assim, desenvolveu um esquema de distribuição, formato e tamanho dos órgãos: descreveu o fígado, o cérebro, os órgãos sexuais. Através dos seus estudos pioneiros nascia a Medicina (Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Petrucelli, 1997, Soares, 1999).

Já Erasístrato de Quios (290 a.C.) colaborador de Herófilo também dissecou cadáveres humanos e formou a Escola de Alexandria, a qual deu, a partir dali, impulso às ciências anatômicas (Chagas, 2001).

Segundo Gardner, Gray e O’Rahilly (1978), Mondino de Luzzi (1276-1326), o “restaurador da anatomia”, fez voltar, de forma inovadora, o hábito de dissecar cadáveres humanos, adotado por Herófilo e Erasístrato, dando porém mais ênfase à prática anatômica universitária. Realizou dissecações públicas em Bolonha em 1315 e escreveu sua Anatomia em 1316. Nesta época de Mondino, era comum as aulas práticas de anatomia acontecerem na casa do próprio professor (Noronha, 1998). Surgia a fase da real importância do cadáver desconhecido, não só para o estudo da anatomia, como também posteriormente, pré-requisito para a cirurgia (Chagas, 2001).
Depois de Mondino, o uso de cadáver na prática da anatomia teve um retrocesso, com o surgimento de Galeno de Pérgamo, que demonstrou e escreveu sobre anatomia sem ter dissecado um só cadáver humano (Gray, 1977; Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Chagas, 2001). Galeno teve reconhecimento na Roma Imperial, em relação à prática médica, que percebeu a ação do cérebro sobre todas as manifestações físicas dos doentes romanos (Melo, 1989; Noronha, 1998). A religião grega era mais hostil e dominante do que a religião egípicia, no que se refere a qualquer interferência quanto ao uso dos corpos dos mortos. “As leis romanas impediam o uso de cadáveres humanos para estudos(Chagas, 2001).

Mas um dos pontos fracos do ensino de Galeno foi frustar o desenvolvimento da Medicina por séculos. O conteúdo teológico de suas idéias era bastante aceitável para a crescente teologia da fé cristã, objetá-las tornou-se, com o tempo, uma séria ofensa (Melo, 1989).

Galeno, efetuou estudos fisiológicos em cães, porcos, cavalos, aves, macacos e fez alusão ao ser humano, cometendo desta maneira, grandes erros, descobertos depois por anatomistas de outras épocas (Petrucelli, 1997; Soares, 1999; História da medicina, 2003). Suas descobertas foram ainda utilizadas por 1400 anos (Melo, 1989). Os estudos provenientes nessa época e nas seguintes, dependiam da autorização expressa do rei, ou corria-se o risco de ser preso e condenado (Chagas, 2001).

Em 1315, Frederico II imperador da Alemanha e das Sicílias tornou obrigatório para os cirurgiões o estudo da anatomia em cadáveres humanos, (o conhecimento da anatomia humana é o primeiro requisito para cirurgia) e a partir daí foram fundados cursos de anatomia nas Universidades da Itália, França e toda Europa, posteriormente (Silvino, 2001). Porém existem provas de que as dissecações começaram na Itália antes de 1240. Em 1275, o italiano Guglielmo Saliceto lança “Chirurgia”, é o primeiro registro de dissecação de um cadáver humano (Gray, 1977; Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Melo, 1989).

Meio às dificuldades, clandestinidade e resistência das classes cléricas e governamentais, um fato importante e histórico acontecia em 1376, quando o Duque Anjou autorizou a dissecação pública e anual de um cadáver, o que constituiu-se num importante avanço para o estudo da anatomia (Chagas, 2001).

Na Idade Média o curso da Anatomia modificou-se quando um artista italiano, tentando esculpir um crucifixo para uma igreja, obteve do prior a permissão para esfolar um cadáver para verificação de seus músculos. Nascia a Anatomia como arte (Melo, 1989).

O Renascimento chegava em boa hora para o bem e progresso da humanidade, pois foi um movimento de renovação de valores, pagando todos os preços que tinha direito, pois o espírito liberal rompia as barreiras do culto cego das autoridades e, aos poucos, ganhava espaço em nome da razão e evolução dos tempos (Chagas, 2001).

A anatomia foi estudada por artistas como, por exemplo, Leonardo da Vinci, que contribuiu muito para a anatomia (Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Melo, 1989). Estudando com finalidade de buscar a perfeição em suas formas artísticas, acabou por contribuir com a descrição de partes do corpo (Petrucelli, 1997). Ele acreditava que a verdade anatômica na arte só poderia ser atingida na mesa de dissecação (Melo, 1989).

As proporções do corpo humano não foram simplesmente medidas e cálculos, mas um conhecimento exato do corpo, sendo o primeiro a se dedicar de maneira sistemática a analisar a anatomia e as proporções do corpo humano e dos animais (Friedenthal, 1990).

Os desenhos de Da Vinci evidenciam, não só a arte, mas também um profundo conhecimento anatômico, mostrando não apenas anatomia de superfície, mas grupos musculares perfeitos, como os músculos do dorso e membros superiores vistos na figura 19 (Petrucelli, 1997; Tavares, 1999).
A osteologia também teve uma atenção toda especial nas dissecações de Da Vinci, como pode ser observado no livro “O Pensamento Vivo” de Da Vinci” (Claret, 1985). A comparação de imagens obtidas nos modernos aparelhos de tomografia computadorizada com seus desenhos sobre a anatomia oferece uma espécie de revelação: Leonardo acertou com exatidão espantosa, por exemplo, detalhes sobre a posição do feto no interior do útero antecipando imagens modernas (Teixeira, 2004).

Da Vinci é a maior prova de que a arte e ciência caminham juntas de mãos dadas e, na anatomia, o cadáver foi esse elo (Singer, 1996). Segundo Freud, apud Teixeira (2004), “Leonardo da Vinci acordou do sono da Idade Média antes dos outros homens”.

A força e o dinamismo desmedidos do corpo humano atingiram seu ápice com Michelangelo Buonarotti (Melo, 1989). Ele passou pelo menos vinte anos adquirindo conhecimentos anatômicos através das dissecações que praticava pessoalmente, sobretudo no convento de Santo Espírito de Florença (Petrucelli, 1997; Wecker, 2002). Michelangelo também estudou o corpo humano a fundo, e para isso, dissecou e desenhou até que a figura deixasse de ter quaisquer segredos (Gombrich, 1978). Usava modelos vivos para capturar a realidade, sendo retratado em obras como: David uma obra-prima de anatomia; a escultura de Moisés concluída em 1516, traz a estrutura de um ombro dissecado na perna do patriarca bíblico e as imagens do teto da Capela Sistina, que são imensas mas anatomicamente corretas, (Melo, 1989; Meshberger, 1991; Sala, 1995; Teixeira, 2004; Giron, 2004).

Apesar de todo o progresso em relação aos estudos da anatomia humana, a dissecação de cadáveres humanos não só era proibida pela Igreja e autoridades governamentais, como era também punido quem fosse apanhado dissecando. Mas a ciência não podia parar e, movidos pelo ímpeto e desejo de aprender e desmistificar o proibido em prol da ciência, os anatomistas não se davam por vencidos (Chagas, 2001). E, enquanto a autorização não chegava, eles insistiam em dissecar os cadáveres às escondidas, normalmente em calabouços ou subterrâneos devidamente escolhidos para este fim.

No passado apenas os cadáveres de criminosos e assassinos enforcados eram usados nas dissecações. Isto gerou um grave problema que era a quantidade insuficiente de cadáveres para estudo, resultando com isto o aparecimento dos chamados “ressucitadores” que eram pessoas que supriam, com cadáveres roubados, os famosos médicos e anatomistas da época (Melo, 1989; Chagas, 2001).

A anatomia foi totalmente reformada por Andreas Vesalius, em seu livro “De humani corporis fabrica” (Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Melo, 1989; História da Medicina, 2003; Vesalius, 2003). De acordo com Petry (2000) e Silvino (2001) nesta época a anatomia deu um grande passo para conquistar definitivamente o seu papel fundamental como “Ciência Básica”. Finalmente o cadáver desconhecido não só seria conhecido do público, como a partir dessa época passaria a ser, depois do professor, a figura mais importante no ensino da anatomia, sem esquecer do corpo discente (Chagas, 2001).
Vesalius em vez de apoiar-se em aparências, preferiu pesquisar todas as partes do corpo, corrigindo muitos erros cometidos por outros estudiosos anteriores a ele (DiDio, 2000; Vesalius, 2003; Teixeira, Galvão, Steiger et al, 2004). Segundo Melo (1989), Vesalius descobriu que várias das descrições de Galeno não estavam de acordo com os fatos observados. As dissecações públicas de Vesalius, demonstradas através de seu livro De Humani Corporis Fabrica comprovam que ele estabeleceu definitivamente o método correto de dissecação anatômica. As poses dos corpos dissecados lembram mais a vida que a morte, em alguns casos, o pano de fundo retrata paisagens naturais ou cidades italianas. Já a figura 30, retrata uma das pranchas de seu livro, a qual descreve todos os músculos superficiais do corpo. A postura do cadáver, sugeriu a posição anatômica, hoje padronizada, para o ensino de anatomia humana em todo mundo (Saunders, 1956; Chagas, 2001; Teixeira, Galvão, Steiger et al, 2004)...”

Fonte:CARLA DE ALCÂNTARA FERREIRA QUEIROZ: “O USO DE CADÁVERES HUMANOS COMO INSTRUMENTO NA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO A PARTIR DE UMA VISÃO BIOÉTICA”. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Católica de Goiás, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais e Saúde. Orientador: Prof. Dr. José Nicolau Heck). Universidade Católica de Goiás. Goiânia, 2005.

Texto publicado no Blog Iba Mendes Pesquisa: Disponível em => http://www.ibamendes.com/2011/01/um-pouco-da-historia-da-anatomia.html

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"A IDENTIDADE MÉDICA" texto de Dr. Fernando Pitrez aos alunos da FAMED e profissionais médicos.

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Professor Dr. Fernando Pitrez
TEXTO ESPECIALMENTE REDIGIDO PARA O SEGUNDO MOMENTO DA PALESTRA "PRINCÍPIOS DA CIRURGIA PALIATIVA" MINISTRADA AOS ALUNOS DA FAMED E PROFISSIONAIS MÉDICOS.



A  Medicina é ciência, arte e tecnologia: ciência, o saber pelo estudo: arte, a criatividade em prol da ciência; tecnologia, o método a serviço da ciência e da arte“. F.Pitrez

Como é próprio dos tempos atuais, a Medicina contemporânea tende a tornar-se paulatinamente mais dinâmica, mecanizada e impessoal. Passa a ser balizada por novas   comprovações científicas, afastando paulatinamente o médico do paciente. Este torna-se, então, sujeito a esquecer ensinamentos básicos e imorredouros nos quais ainda hoje se apoia o bom senso e a sabedoria médica.   Em linguagem figurada seria o filho que, ao crescer, negligencia as sábias recomendações maternas.
O diverso e contínuo avanço da nobre profissão médica segue uma árdua e sinuosa trilha, permeada por obstáculos desafiadores, tanto no que se refere à ciência propriamente dita como no comportamento ético profissional e doutrinário perante o enfermo e a enfermidade.
Em anos anteriores, o exercício da Medicina era intimamente ligado ao desempenho de uma tarefa de tendência missionária em que médicos, além da atividade profissional, em geral privilegiavam o raciocínio clínico acompanhado de generoso humanismo na abordagem dos pacientes.  A investigação da doença resumia-se muito mais ao uso dos primitivos exames de imagem, simples ou contrastados, e de  exames laboratoriais essenciais.
No momento, a ciência médica, desde o início baseada em verdades transitórias e relativas, atinge uma fase sui generis onde se observa o aflorar deste novo paradigma, irreversivelmente baseado em práticas de cunho tecnológico, progressivamente mais sofisticados e complexos.
O clássico raciocínio médico dedutivo/indutivo, dá lugar à mera análise de modernos exames subsidiários. Igualmente abstrai “a parte do todo” e fragmenta o paciente em órgãos ou sistemas orgânicos sem uma visão holística.
É deixado de lado o sábio aprendizado de que homem é corpo e mente ou, como queiram, matéria e espírito os quais são indivisíveis. Uma genuína interpenetração de uma com a outra. Desta forma a doença atinge simultaneamente as duas entidades, desequilibrando a harmonia. O que abrange uma, fatalmente reflete-se na outra, nascendo daí o milenar brocardo de que “há doentes e não doença” ou seja, a enfermidade alcança a totalidade do  ser  humano e como tal deve ser encarada. É função médica reconstituir o equilíbrio e restabelecer a individualidade.
A prática do alcunhado sacerdócio no presente, é muito mais a desincumbência de um intrincado conhecimento cientifico atualizado, do que apenas o executar de uma tarefa de natureza divina.  A ciência dominante na arte da medicina tende a eleger o mecanicismo em detrimento do altruísmo, o que é lamentável. A máquina diagnostica a doença, o médico, o doente.  Supervaloriza a ciência e minimiza a consciência
 Naufraga o artista, emerge o cientista.

O móbil deste fenômeno é o assombroso desenvolvimento da informática nos últimos tempos que impeliu o mecanicismo a avançar em passos céleres e que passou a substituir, com vantagens irrefutáveis, funções que até então, eram de exclusiva  atribuição humana. Como exemplo notório desta realidade, basta mencionar o uso corriqueiro da Ultrassonografia, da TC e da RM, em substituição ao tradicional estetoscópio e ao clássico RX, outrora de grande utilidade e atualmente, empregados circunstancialmente. Em cirurgia, igualmente, os procedimentos convencionais vêm sendo gradativamente substituídos com vantagens indiscutíveis pela instigante e desafiadora abordagem videolaparoscópica.
Desta maneira o facultativo emergente é um novo personagem, o especialista que   tende  a pertencer muito mais a um  universo tecnicista, com uma atribuição altamente diferenciada, do que à confraria original de profissionais probos, dedicados à práticas compassivas e procedimentos tradicionais. Esta tendência irreversível – mas necessária e imprescindível - é a responsável pelas atuais residências e estágios em serviços de excelência, contribuindo de modo expressivo para a perda da  Identidade   do médico contemporâneo. Refém da mecanicidade, esquece a formação básica recorrendo à especialização precoce para alcançar o competitivo mercado de trabalho.
O avanço da tecnologia e a consequente especialização é causa preponderante do progresso da Ciência Médica em prol da humanidade. Todavia no seu âmago, traz consigo  a   indesejável regressão intelectual e cultural do Médico atual. O que é ganho em profundidade, é perdido em abrangência.
A máquina passa a balizar a conduta
 Mesmerizado, por este atraente estímulo hodierno e preocupado, muito mais com a proficiência e formação técnica e científica, muitas vezes o jovem médico vê-se predisposto a minimizar o sofrimento do paciente, invertendo, deste modo, a  imutável pirâmide que deve ser construída  invariavelmente a partir do clássico exame clínico.  A máquina afasta o doente do médico. “É quase uma Medicina sem médicos”, como afirmou Henrique  Pinotti.
O que se denomina Identidade Médica, em última análise, exprime a obediência férrea aos princípios éticos fundamentais da aptidão de curar. É o exercício profissional da Medicina, na verdadeira acepção do termo e não apenas ao desempenho de uma tarefa  altamente diferenciada, como um   mero “técnico em Medicina”.   
É algo a ser preservado a todo custo, pois a sua privação ofusca os princípios  básicos que norteiam  o próprio compromisso  hipocrático e desqualifica o médico em  seu distinto ofício.
A compreensão deste preceito é um fator essencial para o entendimento da relevância da tradicional relação médico-paciente, cuja ausência inviabiliza o exercício pleno da clínica em sua essência. É sabido que o estado psicológico do paciente é fundamental tanto na gênese como na cura da doença. A sadia relação entre médico e paciente comprova de modo irrefutável essa assertiva. O próprio Pasteur, cientista cartesiano, já reconhecera este fato, ao afirmar: “... muitas vezes ocorre que a condição do paciente – a atitude mental - forma barreira insuficiente para conter a invasão de seres infinitamente pequenos”.
Cumpre-se, desta forma, a função médica integral que é a base da formação da verdadeira compreensão da Identidade Médica.
Como corolário inevitável neste momento, além de sua importância tanto no diagnóstico como na evolução da própria enfermidade, o saudável relacionamento médico-paciente constitui-se na mais poderosa arma disponível para contrapor-se ao malfadado “processo por erro médico”. Este, por sinal, no momento, comporta-se como uma legítima “espada de Dâmocles” a pairar sinistra sobre suas cabeças. A suposta falha médica, não dispõe dos  embargos infringentes” para livrá-lo de uma provável  pena.
Isso tudo, entretanto, não deve servir de motivo para críticas mais candentes e a satanização do irreversível modelo presente. O emprego do mecanicismo foi um passo gigantesco na história recente da humanidade. Sem ele, a prática médica torna-se  retrógrada e ineficiente, o que é inaceitável.

A clínica e  a cirurgia não sobrevivem sem o acréscimo da tecnologia.

 No atual estágio evolutivo em que se encontra a coletividade humana, torna-se  indispensável que a classe médica assuma um caráter distinto para que seja  acatada e respeitada, como era em tempos idos. Hoje em dia, boa parte da sociedade coage o médico a ter  conhecimento e atitudes onipotentes, exigindo  do mesmo uma infalibilidade  profissional inatingível, dom  esse que é concedido apenas à  deidade. Como sabiamente afirmou Leonardo Savassi :” Se a sociedade cobra do médico o pedestal da infalibilidade, por que nega a ele o direito de ser humano?"
Em que pese estas adversidades, nenhum motivo sequer deve se constituir em  fator influente da perda deplorável da Identidade e da respeitabilidade médica, como eventualmente está ocorrendo.  A renúncia a este privilégio é lamentável. Médicos, apesar dos múltiplos obstáculos que se lhes  antepõem, devem manter-se no raro  patamar conquistado por estudo, esforço probidade e abnegação.
A luta permanente pela preservação da vida faz do médico um ser social   diferenciado. Por isso, em todas as condutas adotadas é fundamental que mantenha incólume a sua distinção profissional. Como bem frisou, há alguns anos o insigne  escritor cirurgião carioca,  Júlio Sanderson, já falecido: “ A meditação que se impõe é a de adquirir a plena consciência de sua tarefa, certo de que cuidar da saúde e pelejar contra a morte é mais importante para o homem que todas as outras atividades”.
Na essência dessa concepção, “ser medico não é apenas o exercício de uma função   como em outros setores da atividade humana. Muito mais do que uma simples carreira, constitui-se no nobre exercício de uma vocação proeminente que transcende  qualquer outra  atribuição   e  situa-se em  um pedestal bem superior,  que  demanda uma  consciência  clara sobre a responsabilidade científica,  ética e profissional. Corroborando esta afirmativa, é apropriado lembrar as sábias palavras de Pio Furtado, ilustre cirurgião oncologista e escritor gaúcho: “Na espécie, somos todos iguais; todavia, no gênero, distingue-nos uma missão um dia solenemente jurada e todos os outros dias praticada como profissão de fé”.

“Omnium artium medicina nobilissima” (A medicina é a mais nobre das artes ).

O império da evidência científica como norma de conduta, admite-se como postura saudável e necessária, mas não suficiente. Não basta o lucro material. Para ser verdadeiramente médico é preciso que o ganho pecuniário seja acompanhado do júbilo em aliviar o sofrimento do próximo. A medicina não é um fim por si mesmo, já que seu objetivo maior é a cura da doença. Os preceitos fundamentais que norteiam a profissão e a observância sistemática dos preceitos deontológicos são os alicerces da cultura  médica.
Em qualquer circunstância , o objetivo é a cura, sempre que possível; o alívio do sofrimento quando a cura  tornar-se  improvável; o consolo, sempre.
Muito embora sujeita a críticas e contraposições, esta é a minha ótica. Apesar de reconhecer a obrigatoriedade do uso da tecnologia e da evidência científica, teimo em reafirmar que a preservação da prerrogativa do detentor do “poder de medicar“, além de dignificar a própria medicina, constitui-se em preciosa salvaguarda ao atual  fantasma representado pelo  famigerado processo judicial, tão comum no momento atual.
 Aquele que porventura propõe-se a trilhar os caminhos da sublime arte de curar, deve estar muito mais preocupado com a preservação da higidez e bem-estar de seus pacientes do que com questões subalternas de menor importância. Nada mais que isso. A primeira atitude que se impõe neste momento difícil pelo qual atravessa a  diferenciada profissão médica, é adquirir a plena consciência de sua nobre missão, mantendo-se inflexivelmente  no elevado  patamar da  honradez de sua  Identidade Médica.
É um bem precioso que deve ser preservado a todo custo para que o médico atual possa assumir as sua prerrogativas e exercer com soberania à missão a que foi destinado. 

Fernando Pitrez

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